quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CATA BRANCA : parte 2

(FONTE: ARQUIVO PUBLICO MINEIRO)_
Descrição da Mina de Cata Branca As características peculiares do filão de quartzito em que se associava o veio de ouro em Cata Branca, com um ângulo de mergulho próximo aos 90º, obrigavam os mineradores a empreitadas cada vez mais profundas nas entranhas da terra. Registra-se que em 1842 os engenheiros ingleses haviam atingido uma profundidade de cerca de 230 metros. Certo é que as características dessa mina eram únicas, sendo a maior parte de seus serviços realizados no sentido vertical. Segundo a narração do diário de Weddell, contida na publicação de Francis Castelnau, segue-se que:
Entra-se nesse mundo subterrâneo por uma estreita galeria de cento e cinqüenta pés (45,72m) de comprimento, com o fundo cheio d’água até a altura de um pé (30,48cm) […] destinada a dar escoamento às águas retiradas da escavação pelas bombas e cuja perfuração exigiu nada menos de seis anos de trabalho ininterrupto (1949: p. 162).
Neste ponto, no extremo desta galeria, os viajantes avistaram a luz do dia a 100m de suas cabeças. Abaixo, encontrava-se uma escada de ferro que os levava a um poço escuro.
Levou-nos esta primeira escada a uma plataforma, de onde descia ainda uma segunda escada, até a segunda plataforma; daí partia uma terceira escada e assim por diante. […] ao chegarmos ao fundo da mina, estávamos a 300 metros abaixo da superfície da montanha.
O aspecto geral da Mina de Cata Branca, ao ser visitada em 1842 por Suzannet, retrata uma realidade bastante peculiar pela sua feição européia. Ele descreve que ficou
[…] agradavelmente surpreendido quando, ao contrário [pensava este talvez surgir diante de si uma montanha árida, geralmente associada aos veios fecundos], vi as bonitas edificações da companhia inglêsa construídas sôbre uma montanha coberta de flôres e de verdura. [...] A fonte que bota em movimento as máquinas só volta ao seu curso natural depois de ter lavado o minério. E as suas águas são utilizadas pelos negros escravos na irrigação das hortas que ficam aos seus cuidados. Nessas hortas êles cultivam quase todos os legumes da Europa e do país (SUZANNET: 1957, p. 110).
Segundo relatos de Castelnau, em passagem pela mina em 1843 e recebido pelo então diretor da empresa, Sr. Champion, segue-se que:
fomos visitar a povoação, que nos impressionou pelo seu aspecto nitidamente inglês, sua extrema limpeza e seus jardins floridos em frente às habitações. Os escravos, em número de quatrocentos e cinqüenta, são notáveis pela robusta aparência e aspecto sadio. Os dormitórios por eles ocupados são altos, bem arejados e guarnecidos, em ambos os lados, de leitos dispostos em dois andares perfeitamente limpos (1949, p. 160).
A planta de beneficiamento de minério, também descrita pelos viajantes que por lá passaram, é entendida como o local onde se realizava os processos de fragmentação primária, britagem, triagem, concentração e produção do ouro, em local exterior à mina onde era extraído o cascalho. As pedras brutas eram trazidas da entrada das galerias pelos escravos que as depositavam na bateria de pilões, onde eram trituradas. Na seqüência, a areia aurífera era lavada, concentrada e submetida à ação do mercúrio e do fogo para se obter o ouro. Em Cata Branca, o porte do maquinário empregado para se processar o minério retirado das galerias era monumental, conforme um trecho do relato de Suzannet:
Diante de mim, arrumadas em anfiteatro, havia cinco grandes rodas d’água, que davam um aspecto realmente pitoresco à paisagem. Senti-me transportado às nossas belas usinas da Europa ao ouvir o ruído a que estava desacostumado, dessas possantes rodas hidráulicas, instaladas com grandes despesas pela companhia inglêsa, numa das mais admiráveis posições do Brasil (SUZANNET: 1957, p. 109).
Segundo trecho do relato de Castelnau, em passagem pela mina em 1843:
Três imensas máquinas hidráulicas, cujas rodas motrizes têm cerca de quarenta pés (12m) de diâmetro, põem em movimento uma infinidade de pilões de ferro, que incessantemente trituram o minério, reduzidos a pequenos fragmentos pelos negros, que o trazem da entrada dos poços. À medida que a pedra vai sendo pulverizada pela queda dos pilões uma corrente de água atravessa toda a massa, arrastando as parcelas mais leves, enquanto o metal e algumas outras substâncias de peso específico mais considerável se depositam, acumulando-se em quase sua totalidade no fundo dos pilões. As parcelas de ouro que porventura escapem, são retiradas na sua passagem por um plano inclinado, em pedaços de pano colocados expressamente para este fim. Nova lavagem manual concentra ainda o produto, fazendo aparecer a poeira de ouro, que até então é, na maioria das vezes, invisível. Esse pó é tratado em seguida pelo mercúrio, cujo excesso se separa mediante pressão, através de uma pele de camurça (CASTELNAU: 1949, p. 161).
Fica evidenciado, considerando-se os relatos e as ruínas existentes ainda hoje no local, o grau de mecanização de Cata Branca durante a administração inglesa, fato este, porém, que foi incapaz de reduzir os inúmeros acidentes de trabalho, dentre as quais o mais fatal, que veio encerrar suas atividades no primeiro semestre de 1844. O desfecho da Mina de Cata Branca A Mina de Cata Branca é conhecida pela população de Itabirito pelo grande desmoronamento da galeria principal ocorrido em 1844 que matou soterrados, senão afogados, os trabalhadores, tanto negros quanto ingleses, que escavavam os patamares subterrâneos da mina. O número exato de vítimas não é conhecido, variando os relatos de algumas dezenas de pessoas a cerca de uma centena, dependendo do autor. Segundo um dos relatos sobre o ocorrido,
Conta-se que durante alguns dias ouviam-se nas entranhas duríssimas da rocha, os gemidos de muitas dessas vítimas soterradas pelos desmoronamentos. Frustrados todos os serviços de socorro, quando não houve mais esperanças de salvar os vivos sepultados pela catástrofe, por impossibilidade absoluta de atravessar a massa rochosa que os separavam de fora, a solução mais humana que se encontrou, para minorar os seus sofrimentos, foi inundar a mina com as águas das máquinas exteriores e fazer perecer por asfixia os que teriam de morrer por inanição angusiosíssima (OLYNTHO: [s.d.], p. 12). (Continua..........)

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