segunda-feira, 29 de março de 2010

IGREJA DE BOM JESUS MATOZINHOS

A capela do Bom Jesus do Matosinhos em Itabirito apesar de sua pequenez e singeleza adquire importância por força cenográfica resultante de sua acertada colocação paisagística. “Mandada fazer por Silvestre dos Reis”, conforme anunciam os dizeres entalhadas no medalhão que se sobrepõe à porta frontal, foi concluída em 1765. Àparte destes dizeres encravados em sua frontaria, quase nada se sabe da capela, que como grande parte da arquitetura religiosa da região do ouro, ainda aguarda pesquisas básicas para sua historiografia. Porém o esmero de suas proporções e de seu acabamento em cantaria, assim como a elogiadíssima pintura de seu teto , atestam um cuidado que, podemos inferir, certamente foi estendido à sua implantação na paisagem.
Situada na parte antiga da atual cidade de Itabirito, a capelinha localiza-se ao sul do que era o vilarejo então denominado Itaubira do Campo. Seu acesso se faz em forma de uma ladeira de forte declive, que se lança sobre um pequeno despenhadeiro contido por um arrimo de pedra. Tal ladeira é definida em ambas as laterais por um correr de casas que, alinhadas irregularmente, se abrem sobre um largo gramado, que faz a transição até o calçamento propriamente dito.

A igreja e sua via de acesso se voltam em direção ao quadrante norte, posição ótima que faz com que se encontrem constantemente ensolarada. A razão de tal orientação, no entanto, é de ordem puramente panorâmica, pois desta forma atingiam uma melhor colocação cênica no que diz respeito ao vilarejo. O virtual alinhamento da ladeira do Matozinhos com a rua Sete de Setembro propiciava uma otimização da presença da pequena capela que assim adquiria uma monumentalidade e uma dominância sobre o que era então o principal eixo comercial do lugar.
Ao longo da ladeira do Matosinhos e da rua Sete de Setembro, no percurso que liga a Matriz da Boa Viagem à capela do Bom Jesus, localizam-se os passos da paixão, marcados por cruzes ou capelinhas. Algumas das cruzes já desapareceram, porém as capelinhas em número de três, apesar de mal conservadas, ainda atestam um estratégico posicionamento urbano. Duas delas de mínimas dimensões, situadas à rua Sete de Setembro, postam-se cada uma deliberadamente frontais ao entroncamento das ruas que então chegavam de Ouro Preto e Paraobeba. A terceira, de melhor arquitetura, está localizada ao pé da ladeira do Matozinhos, sobre a esquina do arrimo que contem tal ladeira. Lançando-se dramaticamente sobre o violento desnível entre a ladeira e o vale do córrego da Carioca, esta capelinha como que ordena o espaço ao seu redor, indicando o trajeto a ser feito pelo peregrino. Sua composição cênica foi tão feliz que sua vista desde a rua Sete de Setembro, juntamente com a ladeira encimada pela capela do Bom Jesus, consagrou-se como imagem referencial da cidade, tornando-se tema obrigatório para os pintores locais assim como para os cartões postais de Itabirito.
Pontuando com uma cuidada simplicidade os “nós” de uma trama urbana que apenas começava a se esboçar, tais passos atuam como discretos marcos referenciais. Engenhosamente compensam sua diminuta escala através de uma clara intencionalidade e de um assertivo posicionamento na visualidade urbana.
Em sua monumentalidade os santuários portugueses mantem uma certa rigidez geométrica. Em Braga os perfis dos parapeitos e o alinhamento das estátuas e elementos decorativos criam um rítmo aparentemente rígido que vai no entanto perder sua racionalidade ao ser percorrido pelo peregrino. Este em seu percurso zigezagueante, termina por deconstruir tão marcada geometria.